Podemos dizer então que isso é um grande mal da humanidade
hoje, o preconceito contra o tipo de pessoa que o outro é, algo totalmente fora
do que seria uma convivência humana, as pessoas estão tentando diferenciar cada
um de nós mas não vêem que somos da mesma espécie e temos direitos iguais.
“Na escola, a homofobia é escondida pela tolerância mascarada”, diz pesquisadora
A
violência nas escolas não é um fenômeno atual. As agressões verbais, físicas, a
discriminação e o ciberbullying são situações comuns no ambiente educacional e
refletem o que a sociedade machista ainda estabelece como norma: o aluno
branco, heterossexual, de classe média e de religião católica que é aceito.
Essa é a opinião de Miriam Abramovay, que coordenou diversas
pesquisas da Unesco e atualmente coordena a Área de Juventude e Políticas
Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
Ao
iG, ela debateu ainda o preconceito e a homofobia dentro do ambiente escolar e
a dificuldade das instituições de ensino para lidarem com a questão. Confira a
entrevista abaixo.
iG: O que é caracterizado como
violência escolar?
É interessante notar que não é só uma violência, mas muitas. Existe uma violência na escola e também a violência da escola. Sabemos que o espaço da escola não é um oásis, não é um local protegido. Então toda a violência que permeia a sociedade está na escola. Mas ela não só é responsável por reproduzir a violência, mas também produzir a sua própria violência.
É interessante notar que não é só uma violência, mas muitas. Existe uma violência na escola e também a violência da escola. Sabemos que o espaço da escola não é um oásis, não é um local protegido. Então toda a violência que permeia a sociedade está na escola. Mas ela não só é responsável por reproduzir a violência, mas também produzir a sua própria violência.
Eu costumo separar em duas essas
violências: a primeira é a chamada violência dura, que é aquela que vem do
tráfico dentro da escola, do aluno que leva arma, causa brigas e morte. É
aquela violência que encontramos no código penal. Ela chama muito a atenção,
mas ainda não é o tipo de violência principal. É a microviolência que está no
cotidiano dos estudantes, que é a agressão verbal, o preconceito e em alguns
casos a agressão física.
A escola é um local onde as relações
sociais são muito tensas, onde se estabelecem vários tipos de problemas, de
contradições. Isso acaba aparecendo através do racismo, do preconceito, da
homofobia. Geralmente é o aluno branco, heterossexual, de classe média, de
religião católica que é aceito, essa é a norma.
iG: E isso pode contribuir para evasão
escolar?
A instituição escolar enfrenta muitas dificuldades para lidar com isso. Ela não consegue absorver os seus alunos, principalmente os adolescentes. Muitas vezes acaba o expulsando da escola, não aceitando as suas formas de ser jovem, não trazendo discussões que o interessem.
A instituição escolar enfrenta muitas dificuldades para lidar com isso. Ela não consegue absorver os seus alunos, principalmente os adolescentes. Muitas vezes acaba o expulsando da escola, não aceitando as suas formas de ser jovem, não trazendo discussões que o interessem.
iG: Existe hoje uma exposição da
violência na escola, como brigas que são gravadas e colocadas na internet. Qual
é o efeito disso?
Essa sociedade do espetáculo em que vivemos tomou vida com isso. E trouxe o ciberbullying. Não é um fenômeno do Brasil. Temos que contextualizar isso dentro de uma sociedade que precisa aparecer, principalmente os jovens. Fiz um trabalho com gangues de meninas e isso acontece muito, quanto mais você aparece, mais você é notado.
Essa sociedade do espetáculo em que vivemos tomou vida com isso. E trouxe o ciberbullying. Não é um fenômeno do Brasil. Temos que contextualizar isso dentro de uma sociedade que precisa aparecer, principalmente os jovens. Fiz um trabalho com gangues de meninas e isso acontece muito, quanto mais você aparece, mais você é notado.
O que me chama atenção é a quantidade
de vídeos de meninas, é um fenômeno mais recente e isso é muito grave. Às
vezes, uma briga acontece e acaba dentro do ambiente escolar, mas quando coloca
no YouTube é uma humilhação global e por muito tempo. É algo muito pouco
discutido nas instituições de ensino. Mesmo que aconteça na porta da escola,
não importa, são alunos, então precisa ser trabalhado, precisa ser discutido.
iG: Em uma pesquisa divulgada neste
ano, quase metade dos professores afirmou que já sofreu agressão dentro da
escola. A figura do professor é respeitada?
Quando sai uma pesquisa a gente tem que tomar cuidado, porque é somente uma face da questão e do problema. Existe um problema com a nossa educação, uma questão de não reconhecimento do papel do professor, e não é só por parte dos alunos.
Quando sai uma pesquisa a gente tem que tomar cuidado, porque é somente uma face da questão e do problema. Existe um problema com a nossa educação, uma questão de não reconhecimento do papel do professor, e não é só por parte dos alunos.
Estou fazendo uma pesquisa agora para
o Ministério da Educação (MEC) em escolas públicas e me chamou atenção que não
teve nenhum aluno que falou que gostaria de ser professor. Acho que o modelo da
escola, como ela está funcionando, não está servindo para o jovem do século 21.
Ela acaba sendo uma escola sem interesse, desagradável.
iG: O que é preciso fazer para mudar
esse quadro?
Precisamos de uma política pública pensada. Nós não temos até agora um quadro nacional sobre a violência nas escolas. Temos estudos específicos, como por exemplo de bullying. Mas precisamos de um quadro geral para que possamos ter políticas públicas mais efetivas, de uma forma nacional.
Precisamos de uma política pública pensada. Nós não temos até agora um quadro nacional sobre a violência nas escolas. Temos estudos específicos, como por exemplo de bullying. Mas precisamos de um quadro geral para que possamos ter políticas públicas mais efetivas, de uma forma nacional.
E temos que perceber que existem
programas contra bullying, para pessoas com deficiência, para colocar a ensino
da história e cultura afro-brasileira – que pouco está acontecendo por sinal.
Estamos fazendo leis, como se a Justiça fosse resolver a questão. Não é assim.
Acho que é preciso colocar em cheque também a formação que é oferecida aos
professores. Precisamos mudar essa situação.
iG: Você coordenou algumas pesquisas
que incluíam a violência contra os homossexuais em escolas. Há dados
atualizados sobre o assunto?
Andei pesquisando e existem algumas pesquisas recentes, mas geralmente elas trabalham com conceito de bullying. E isso é complicado e restringe a ideia. Porque bullying é violência entre os pares. Se há violência com professores na escola, isso não é mais bullying, é violência. Essas pesquisas se restringem porque trabalham com esse conceito, mas que é muito discutível.
Andei pesquisando e existem algumas pesquisas recentes, mas geralmente elas trabalham com conceito de bullying. E isso é complicado e restringe a ideia. Porque bullying é violência entre os pares. Se há violência com professores na escola, isso não é mais bullying, é violência. Essas pesquisas se restringem porque trabalham com esse conceito, mas que é muito discutível.
A questão da sexualidade é muito
complicada, a escola não está preparada para lidar com o tema, e os alunos não
estão preparados para não serem preconceituosos. Não podemos nos esquecer que
vivemos em uma sociedade machista. Então existe uma série de preconceitos, mas
principalmente a homofobia. E ela ainda é escondida pela tolerância mascarada,
que é complicada. É ensinado que temos que ter tolerância, mas “tolerar é
aguentar” e a relação das pessoas não pode ser de suportar.
Dos preconceitos, ela acaba sendo a
mais grave porque permeia a sexualidade de qualquer um. Dos adolescentes, dos
jovens, dos professores. E tem um aspecto muito violento, porque essas pessoas
recebem apelidos, são motivos de piada. Sofrem tanto que abandonam a escola e
isso vemos constantemente.
iG: Como o ambiente escolar deveria
lidar com a questão?
A escola não sabe bem como atuar nessas ocasiões, nem quando a coisa acontece. Existe toda uma coisa de prevenção que deveria acontecer nas escolas, mas que não acontece, só acontece quando a situação chega ao extremo. Tudo é levado como se fosse brincadeira, quando na verdade acaba gerando uma dor muito grande.
A escola não sabe bem como atuar nessas ocasiões, nem quando a coisa acontece. Existe toda uma coisa de prevenção que deveria acontecer nas escolas, mas que não acontece, só acontece quando a situação chega ao extremo. Tudo é levado como se fosse brincadeira, quando na verdade acaba gerando uma dor muito grande.
Questões muito pertinentes à discussão, lembrando sempre, que as pessoas podem discordar das nossas opiniões, contudo, devemos respeitar as escolhas pessoais.
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Grupo 4.
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